Lagarta de Fogo

Que saudade de Dom Helder Câmara, um arcebispo progressista e preocupado com os direitos humanos. Seu sucessor, Dom José Cardoso Sobrinho, se meteu em um grande imbroglio ao condenar o aborto sofrido por uma menina de nove anos, grávida de gêmeos após inúmeros estupros cometidos pelo padrasto. Com 1,33 de altura e 36 quilos, a criança corria risco de morte se levasse adiante a gravidez. Não bastasse o drama sofrido pela família, o religioso resolveu meter o bedelho e excomungou todo mundo envolvido na história: mãe, médicos, advogados. Só não excomungou o capeta que provocou todo esse mal, o covarde que violentou a enteada. Agora, depois da polêmica e das críticas generalizadas que sofreu, tenta amenizar o teor de suas ferozes declarações: "Não dei excomungão. É a lei da Igreja. Não fui eu, dom José, que apliquei essa penalidade. É uma penalidade latae sententiae, ou seja, automática."

Sou contra o aborto, principalmente quando usado como método contraceptivo, pois há quem interrompa a gravidez como se fosse a prática mais natural do planeta. Não condeno quem faz, pois cada um é dono do próprio nariz e eu não sou ninguém para julgar, mas simplesmente não concordo. No entanto, creio que uma criança, que sofreu uma terrível violência sexual e não tem estrutura física nem psicológica para ser mãe, não deveria ser obrigada a morrer para gerar um descendente do algoz. Sou católica, estudei em colégio de freiras, porém discordo totalmente das declarações estapafúrdias do arcebispo, afinal o aborto é permitido no Brasil nos casos de estupro e quando a vida da mãe corre risco. Será que essa menina, que já padeceu tanto, ainda tem de carregar nas costas o peso das idéias retrógradas desse religioso?