13.4.09

Transplante: O Dom da Vida

| Chamuscado por Laritz |



Há quase quatro anos, minha mãe recebeu um fígado novo. Graças ao gesto de solidariedade de uma família em um momento extremo de dor, nossa família e as das outras pessoas beneficiadas com os órgãos daquele rapaz voltaram a sorrir. Sempre acreditei que partes do corpo que não servem para mais nada depois da morte são capazes de devolver vida aos doentes. E essa crença vem de muito longe. Antes mesmo de mamãe precisar, ainda menina, montei uma barraca de inscrição para doadores de córneas durante uma Feira de Ciências do colégio. Naquela época, eu só havia ouvido a palavra transplante uma única vez: meu pediatra era transplantado de rim. E mesmo assim, por livre iniciativa, fui ao Banco de Olhos de São Paulo, peguei material e apoio e fiz campanha para restituir a visão a quem necessitava.

Apesar dessa consciência, jamais imaginei que um dia alguém da nossa família precisaria de um órgão doado para sobreviver. Confesso que o momento em que a médica informou que a única saída seria um transplante de fígado soou como uma sentença de morte. Mal sabia eu que era uma sentença de vida. Passamos cinco anos em intensa agonia, embora eu sempre me agarrasse a esse fio de esperança. Havia cinco mil pessoas na frente e, quanto mais ela subia na lista de espera da Central de Transplantes, mais aumentava a expectativa. A cada toque do telefone, nossos corações disparavam. Até que no dia 10 de maio de 2005, às 16 horas, meu celular apitou. Era a médica informando que finalmente havia chegado a hora. Enfiei minha mãe no carro e toquei para o Hospital Oswaldo Cruz, onde a equipe a aguardava.

Enquanto os órgãos eram retirados do doador em outro hospital, minha mãe foi preparada física e psicologicamente. Foi necessário aguardar outro telefonema, dessa vez confirmando que o fígado poderia ser aproveitado. Às 22 horas, ela foi levada para o centro cirúrgico. Estava cercada pela família e não tinha certeza se voltaria. Mas voltou, e voltou curada. Depois de apenas uma semana, estava em casa. Hoje, leva uma vida absolutamente normal e tem muito orgulho do anjo que mora dentro dela. Nós nunca encontramos as palavras adequadas para agradecer tamanho gesto de solidariedade, mas temos certeza que uma pessoa vive feliz lá em cima sabendo que doou saúde e felicidade para tantos aqui na Terra.

Atualmente, 50 mil pessoas estão na fila de transplantes no Brasil, mas grande parte morre antes de conseguir um doador. Por saber como é difícil a espera por um órgão, fiquei completamente emocionada com a nova série do Dr. Drauzio Varella no Fantástico: Transplante - O Dom da Vida. No primeiro episódio, ele explicou como é diagnosticada a morte cerebral e como é feita a captação dos órgãos. Mostrou também tocantes depoimentos de dois pacientes que aguardam coração e pulmão. Algumas cenas são de fato impressionantes, mas o que mais me chamou a atenção foi a dificuldade de conseguir os órgãos devido ao despreparo das equipes intensivistas. Espero, do fundo do coração, que essa brilhante iniciativa ajude a salvar muitas vidas. E que outras famílias em breve possam sorrir novamente como a nossa.

1 comentários:

Virginia disse...

Excelente post! Vou ver o vídeo agora.
Beijos

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