9.6.09

O gol, o grão de bico e o investigador

| Chamuscado por Laritz |

Vivo uma fase de deliciosa nostalgia. O reencontro com antigos amigos dos tempos de colégio, possível apenas graças à bendita internet, tem chacoalhado minha memória e resgatado momentos incríveis. Além de localizar fotos tiradas com aquela singela maquininha Xereta, cujo flash quase explodia quando acionado, estou revivendo histórias de anos fabulosos, quando as únicas preocupações eram as notas nas provas - que nem precisavam ser tão altas, pois nos contentávamos em apenas passar de ano.

No colégio, conheci uma menina loirinha, que depois cursou jornalismo comigo. Somos grandes amigas até hoje e nossas vidas são repletas de coincidências. Nascemos com exatos 14 dias de diferença e somos ambas de peixes com ascendente em leão. Moro no prédio que o pai dela construiu, no apartamento embaixo de sua irmã. Nós duas tivemos filhos gêmeos - e ainda por cima um casal cada uma. Os bebês dela passearam nos carrinhos dos meus. E, se nossas tramas derem certo, nossos laços se estreitarão ainda mais, pois prometemos nossos rebentos em matrimônio uns aos outros. Juntas, vivemos deliciosas expedições pelo underground. E matamos muitas aulas de ginástica para comer biscoito de polvilho.

Quando começamos a dirigir, íamos para a faculdade em nossas carangas audaciosas. Eu pilotava meu voyage verdinho, o Bob, mesmo sem ter carteira de motorista. Ela andava num golzinho branco, motor de enceradeira, sem saber se dava seta para cima ou para baixo, embora já fosse habilitada. No toca-fitas, Ramones, The Cramps, Sex Pistols, The Cure, Echo and The Bunnymen, Siouxsie and the Banshees, The Smiths. A música dependia do clima: Ramones, por exemplo, era sempre para os dias ensolarados.

Um belo dia, de nossas mentes sadias surgiu uma brilhante idéia: prendemos um balão em um bob de cabelo e criamos uma espécie de estilingue. Nossa diversão era acertar os traseiros universitários nos intervalos. O negócio era tão organizado que computávamos os pontos ganhos por cada uma. Todo dia alguém levava um punhado de feijões para abastecer a geringonça. Até que, na minha vez, descobri que o mantimento estava em falta em casa. Como sempre fui 'inteligente', substitui a munição por grão de bico. Afinal, ambos são da mesma família leguminosa. E assim continuamos nossos tiros nos popozões alheios.

Ela dirigia sempre no meio das faixas, pois detestava ter que escolher entre a esquerda e a direita. E eu pendurada na janela, feliz, estilingando grão de bico nos transeuntes. De repente, um carro nos fechou perigosamente. Dois marmanjos mal encarados correram em nossa direção. Sem pensar direito, porque se raciocinasse jamais manobraria daquele jeito, ela engatou a ré, fugiu da 'emboscada' e pilotou seu carrinho veloz pelas ruas centrais da cidade. Enquanto éramos perseguidas, gritávamos de medo, terror e pânico. Não sabemos como conseguimos chegar inteiras ao seu prédio. Detalhe: lá, os veículos entravam na garagem por elevador, e muitas vezes era preciso esperar para estacionar. Naquele dia, milagrosamente, subimos a jato e só respiramos aliviadas quando trancamos a porta. Sua mãe notou que havia algo errado, mas desconversamos. No entanto, o pavor era tamanho e eu precisava ir embora, que abrimos o jogo. Levamos uma bronca e tanto, em compensação ganhamos uma motorista para me levar para casa.

Depois de muita água com açúcar, saímos do prédio ainda tremendo, esperando alguma tocaia. Por sorte, nosso algoz havia desaparecido. Tempos depois, descobrimos que o motorista daquele fusquinha que tentou nos pegar era na verdade um policial, irritadíssimo porque havia sido atingido por nossa geringonça atiradora de leguminosas. Na época, era considerado o investigador mais linha dura da cidade. Dava geral em qualquer carro que tentasse ultrapassá-lo ou ousasse piscar o farol alto pedindo passagem. Achamos que ele queria nos prender. Logo nós, duas burguesinhas cujo único pecado havia sido estilingar grão de bico no traseiro à paisana. Pelo sim, pelo não, desovamos o estoque de munição, os balões e os bobs em alguma ribanceira. E nunca mais aprontamos algo do gênero - pelo menos, até a peripécia seguinte...

23 comentários:

PÉRICLES repórter investigativo disse...

ehehe..legal.
Escuta, vc sabe postar videos do youtube no blog?
bjos

MARCO PLÁCIDO disse...

Lara,

Quem vos fala é o Marco Plácido. Venho agradecer suas palavras na orelha do meu livro que será lançado pela RG editores esse ano. Perspicaz análise, abraço do Marco.

gabs disse...

Muito engraçado rsrsrsr,eu jamais teria pensado em aprontar algo do tipo.

Virginia disse...

Amei, amei, vc fez um ótimo relato, fiquei curiosa o final da história!
Saudades... Tudo bem por aí?
Sei que devo uma ligacão, mas tô chegando tão tarde em casa, janto e me arrasto pra cama... Mas desses dias não passa, mando notícias!
Beijos

Pezzolo disse...

hehh u lembro quando eu ea vi xingavamos as noivas do ipiranguinha..

Mosana disse...

adorei!
grão de bico é sempre uma boa opção.. né mermo?
uahauhauhauhauahhauaauhauhauhauh
relembrar é viver.. e vc pelo visto tem ótimas lembranças!!
kisses darling

Edu Reina disse...

Mas que menina sapeca, levada da breca, hehehe.

Unknown disse...

AMADA.....LEMBRO DESSA FUGA COMO SE FOSSE ESSA MANHA!!!! MAS, NA VERDADE, NINGUEM PODERIA CONTA-LA MELHOR.... VC E DEMAIS AMIGA... TE QUIERO!!!!! AHHH...EU REALMENTE DIRIGIA NO MEIO????? SEI QUE NAO GOSTAVA DE ESCOLHER O LADO, MAS PENSEI QUE NUNCA TIVESSE CONTADO!!! RSRSRSRS.... EU FIQUEI EM PARANOIA PELO MENOS DOIS MESES....ACHANDO QUE ESTAVA SENDO PERSEGUIDA PELO OPALAO!!!!

Mylla Galvão disse...

Adorei...
Seu texto me fez morrer de rir e relembrar os meus velhos termpos de escola...
Gostei tanto q vou te seguir...

Bjão

Susi^Â^ disse...

Que delicía poder relembrar nossas aventuras da adolescência, mas não importa a idade o ideal seria reviver algumas delas. Amei aqui a vontade é me atirar no sofá do templateficar por aqui, rs Posso voltar? Prazer! bj

Anônimo disse...

Que delícia de post, como é bom relembrar bons tempos.
Bjus!

Unknown disse...

Laritz!

Só não votei na sua postagem que concorre lá no Um pouco de mim, porque fiz a escolha pelo tema que mais me alegrou. Porém, sua escrita é perfeita e você sabe bem disso. Essa história também é fantástica. Que legal se realmente for você e uma amiga sua. Estou encantada com o Lagarta de Fogo que só conheci agora. Tenho muita boa leitura, portanto, para o fim de semana.
Deixo aqui minhas palavras de completa admiração,
Um beijo,
Talita.

Laritz disse...

Muito obrigada a todos que estão votando em mim. Estou muito feliz com os elogios e mais ainda por compartilhar meu sofá com vcs!

Dona Perfeitinha, a história é verídica mesmo e de fato aconteceu comigo e com uma amiga, a Débora que postou comentário um pouco acima do seu!

Beijos!

bete p.silva disse...

Olá, estou vindo aqui pela Elaine, parabéns, muito bem desenvolvida sua história.

Mônica disse...

Li para comentar. gostei do texto, tem pitada de humor e ação. Felidade para o concurso.
com carinho

Nina disse...

Rsrs, que doideira... aprontando né? Coitados dos bumbunn atacados, rsr.
Te vi na Elaine, adorei o que li :)

voltar no tempo?? opa é comigo mesmo!!
Um beijo

Andreia Alves disse...

Olá! Passando por aqui para comentar e adorei teu texto, leve e muito engraçado.
Boa sorte no concurso!!!

Vagner Lopez disse...

Olá! passando pra lhe fazer uma visita. Adorei o post.A parte em q vcs atiravão feijões e grãos de bico em bumbuns alheios é ótima.rsrsrs.

Um beijo e um ótimo final de semana.

Anônimo disse...

Olá, Lara! você escreve muito bem! que delícia de texto e de recordações!

Um grande abraço!

Ypsilon Yvone disse...

Uma delicia de ler. Acho que todos nós vivemos um grande momento de nostálgia.
parabéns!

Alexandre disse...

Essa eu não conhecia, mas já ouvi muitas dessa época e dessa dupla, e do resto da turma...

Adoro você, já votei, pois, como você bem sabe, sempre apoiei (nos próprios ombros, literalmente) seus projetos.

Um beijo.

PS: Tem mais gente (dois na verdade) na fila da Sophia, viu!!!

Maura Fischer disse...

KKKKKK! Caramba! De onde vcs tiraram essa idéia!
Adorei a história!
Boa Noite!

Maura Fischer disse...

KKKKKK! Caramba! De onde vcs tiraram essa idéia!
Adorei a história!
Boa Noite!

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