Na qualidade de mãe zelosa e up-to-date com as novidades natalinas, decidi levar as crianças para ver a chegada do Papai Noel no shopping. Noite de terça-feira, frio, garoa, imaginei que não haveria tanta gente assim. Eu e a torcida do Corinthians pensamos a mesma coisa. Chegamos lá ainda cedo. O clima era de festa e ficamos na fila da pintura de rosto, que a garotada tanto gosta de fazer e as mães, de limpar. Nem estava tão longa, mas os artistas eram muito lentos. Muito lentos mesmo. Esperamos, esperamos, esperamos. Bem na nossa vez, todo mundo correu alvoroçado para a porta, pois o bom velhinho estava chegando. Desistimos da maquiagem e lá fomos para a entrada. Uma multidão se aglomerava. Saquei meus tentáculos de polvo-mãe e me equilibrei para segurar dois filhos, quatro balões e uma bolsa gigante, que eu tentava proteger de eventuais meliantes. Permanecemos quase meia hora em pé, firmes, fortes e com frio, ouvindo uma banda barulhenta de palhaços – e todo mundo sabe do meu pânico de palhaços. Eis que do outro lado da avenida, ao longe, avistei o que seria um trenó e respirei aliviada, até perceber que em vez de seguir em linha reta em direção ao shopping, o homem resolveu dar a volta olímpica onde Judas perdeu as botas. Fantasiei que seria uma entrada em grande estilo, de helicóptero ou de rapel, mas me frustrei ao vê-lo aparecer numa carroça enfeitada. Convenci as crianças que seria melhor esperarmos dentro do shopping, pois conseguiríamos vê-lo de qualquer jeito e pelo menos não passaríamos mais frio. Depois de algum tempo, finalmente entrou a comitiva do Papai Noel, composta por uma multidão exausta de mães, pais, agregados, meninas e meninos de todos os tamanhos e cores, seguranças, fadas, duendes e mais alguns seres mitológicos saídos das profundezas do ABC. Percebi que saltitavam todos rumo ao trono que o gordinho de vermelho ocupará até o Natal, puxei as crianças e cortei caminho, indo pelo sentido oposto daquela horda, me sentindo a mãe mais inteligente do mundo. Há! Há! Há! Ou melhor, Ho! Ho! Ho! Milhares de pessoas foram mais espertas e formaram uma fila mais conturbada que a dos ingressos da Madonna. Sem o menor campo de visão no meio daquela muvuca, agarrei as crianças e subi a escada rolante, para que ao menos avistassem o barba branca lá de cima. Ficaram frustrados, mas ainda gritaram felizes “Ho Ho Noel, Ho Ho Noel!”. Do andar superior, vi um molequinho de amarelo abraçar o cara com um sorriso de felicidade tão grande quanto o do primeiro cliente que comprou o ‘aifone’. Prova cabal que brasileiro gosta mesmo de fila. Consolei as crianças alegando que, naquela confusão toda, provavelmente o Papai Noel não anotaria direito os pedidos e entregaria os presentes trocados, por isso seria melhor voltarmos depois. E para encerrar bem o calvário, entrei na sapataria, peguei de volta meu trambolho de viagem que não foi consertado e saímos os quatro pelos corredores lotados: eu, crianças e mala sem alça – todos com os pés doendo e sem um pinguinho de espírito natalino. Baixinho, cantarolei a música dos Garotos Podres: "Papai Noel velho batuta, sujeito miserável... Presenteia os ricos e cospe nos pobres".
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Lagarta de Fogo
Quem é Laritz
Lara Fidelis. Jornalista, escritora, pisciana com ascendente em leão, mulherão e mulherzinha, mãe de gêmeos, cidadã, amiga, palhaça, amante, comparsa, sonhadora, valente, estabanada, avoada, riso frouxo, faminta de vida, bebedora de estrelas. Muitas em uma, única em muitas.
Pensamento do dia
Good girls go to heaven. Bad girls go everywhere.
4 comentários:
esses encontros são sempre ANIMADOS!!!
meus filhos parecem lombrigas escorregadias... e SEMPRE conseguem se desvencilhar das minhas 8 mãos de mãe polvo e somem feito fumaça! comigo no encalço gritando feito louca!
sinistro.
lá perto do apt no shopping interlagos tá tudo arrumado e lindo para o Natal! prometi levá-los esse fds.
G-zuz me ilumine!
Nota mental: levar algemas para oa nanicos não sumirem.
E o pior é que eles ficam realmente hipnotizados com o velho batuta né? Algo mágico e único.
Kissessssss
siiiiiiiiiim.. PRECISAMOS marcar algo bacana para nós e para os fedels (apelido carinhoso dos meus fedelhos)!!!!
deixa essa tempestade da mudança passar que a gente vai tá pertinho!
kisses
Ai, cada mico que a gente sofre por causa dos pequenos... Só quem é mãe sabe. rsrsrs
ahahahaha o pior q eu trombei com esse noel no parque central.
ele tava se arrumando pra sair lá, e não tinha ninguém em volta
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